quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Cadê o Rafael Doido que estava aqui?


Essa vida parece uma estrada. E lá vinha eu, saindo da minha adolescência cheio de opiniões formadas sobre tudo, sobre o mundo. Eu era meu ídolo dentro de um mundo que eu mesmo criei. Lembro muito bem que eu era firme nas minhas idéias e nos meus ideais. Até me lembro quando Raul Seixas cantava sobre ser uma metamorfose ambulante e eu achava que era de uma pessoa que a todo instante se modificava, mudava de opinião como quem muda de cueca, que fosse uma pessoa altamente inconstante e influenciável. Eu não me identificava com a personagem. Talvez ele tenha deixado essa impressão por causa da rapidez com que se canta uma música, talvez não. Talvez todos nós sejamos mesmo uma metamorfose ambulante. Cada um em seu grau de velocidade. Uns mudando rapidamente, outros nem tanto.
E eu hoje quando olho no espelho não encontro mais o velho Rafael Doido de guerra, só vejo o Rafa. Um cara pacato, meio sem graça, que não cuida muito da aparência, que só pensa em trabalhar, ganhar seu dinheirinho, que gosta de viajar para uns lugares tranquilos, ouvir suas musiquinhas prediletas, assistir aos jogos do Ceará no Castelão, relembrar velhas histórias e antigos amores, rever alguns poucos e bons amigos, beber sua cervejinha, ler um livro e, principalmente, estar com o Rian. Não é que eu tenha deixado de ter orgulho de mim, eu só parei com essa bobeira de ídolos. Claro que admiro algumas pessoas, me admiro, mas não é nada que se diga: Nossa! Esse cara é meu ídolo!
Esse negócio de colocar certas pessoas em um pedestal e só reverenciá-las é uma ignorância. E eu fazia isso comigo. Não me achava o cara mais atraente, nem o mais bonito, mas me achava especial demais, achava que eu não podia errar e me cobrava demais. Sempre querendo ser o mais engraçado, o mais inteligente, o mais amigável, o mais simpático, o mais camarada. Achava que tinha que fazer de tudo para ser o melhor namorado, o melhor amigo e, de alguma forma, até conseguia, mas ao invés de me ajudar isso só me atrapalhava, pois eu além de me cobrar eu passava a cobrar os outros. Meu pensamento era que se eu tentava ser o melhor nessas coisas, por que os outros também não faziam isso?
Chutei pra longe de mim várias pessoas que realmente gostavam de mim, só porque tinham suas peculiaridades e eu não aceitava. Claro que em egoísmo e falta de sinceridade eu continuo dando bicudo pra bem longe, mas outras bobagens também me irritavam e isso era fatal.
Quem estiver lendo vai achar que pareço um velho relembrando toda a sua vida. Velho até que não sou, apesar de me sentir um velho às vezes, mas a verdade é que já estou a léguas de distância do Rafael de uns anos atrás.
E tudo pode até estar soando um pouco triste, melancólico, mas não é. Mudei de jeito, de opinião, de hábitos por conta de uma força maior, por um projeto maior e gostei da mudança. Ou será que só me acostumei? Só o tempo vai dizer.

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